Organizando a mala e a vida…

O título é um pouco subjetivo, mas o planejamento é real. Em menos de 36h partirei para uma nova experiência… E, já me sinto quase “expert” em viajar quando as coisas não estão tão bem. Rs.

Acordei, não fui treinar e apesar de uma resistência interna, tenho feito um exercício mental para terminar de arrumar essa mala… Meu desapego decretado começa pelas roupas que já não me servem mais, mas que eu guardava na esperança de perder as formas que interrompem o natural fluxo da subida do fecho da calça. O sapato que machuca; o vestido que exibe o que não me interessa tornar público; a blusa que amassa meu corpo. Deixo ir.

Estou aqui com uma mala aberta e uma outra de desapego…

O mesmo deve valer para as pessoas. Guardo no coração todos com quem compartilhei bons, e também os maus momentos, mas é chegada a hora de permitir que uns sigam seu próprio caminho. Gratidão pelo encontro, mas a porta está aberta: podem ir. Dá medo perder, de se arrepender, mas nós também devemos seguir novas rotas, esbarrar com novos sorrisos, dividir novos pensamentos, aprender a lidar com gênios mais dóceis e com personalidades ainda mais difíceis ou fáceis do que a nossa.

Uma amiga na qual tenho muito apreço me disse certa vez de que o que exige muito esforço para o encaixe, não é seu. Deixe ir. O nosso chega suave e só se acomoda, não te faz sofrer, não te causa insegurança, não te faz mal. É preciso acreditar que existam pessoas assim. E eu sempre defendi essa tese e nunca precisei de guru para reforçá-la.

Não importa se os orixás, a sua intuição, os gnomos, as bruxas ou os seres de outro planeta — ou o que faça sentido para você —dizer que as pessoas não mudam. Elas mudam quando querem mudar. Eu acredito nisso! Não vou deixar de acreditar. Mas também sei que geralmente elas se mostram numa primeira tentativa, na segunda ou te provam o contrário ou se confirmam como são. Não há terceiras.

Tem horas que é preciso deixar para trás e só se entregar à sorte, ao destino, ao merecimento e confiar que o melhor ainda está por vir. Sei que não é um exercício fácil, mas se pensarmos bem, fazemos a nossa parte e o resto acontece como nós queremos ou não, sem controle. Então, deixe fluir.

Se nada disso te convencer, escute atentamente a provocação da artista mexicana Frida Kahlo. Ela foi sábia quando decretou: “Onde não puderes amar, não te demores!” É exatamente isso! Em uma realidade de incertezas, use o coração como bússola. O que faz você ter vontade de levantar todos os dias na cama? Quem te tira um sorriso ou rouba seu sono antes de um encontro? Qual ausência é a mais presente na sua vida? Essa pessoa vale mesmo a pena? Eu quero amar meu trabalho, quero estar perto dos amigos que escolhi.

Quero um amor maior do que uma companhia acomodada, fria, ainda que costumeira. Não quero. Pode ir!

Acredito na sabedoria do ritmo cardíaco. Se ele esmorece, é hora de procurar o que o acelera. A vida é muito passageira e precisa ter propósito. Isso não é frase de autoajuda. Basta olhar para o lado. Um vírus que chega e arranca pessoas, sonhos, a saúde de milhares. Um furacão e o vento veloz chega e só deixa poeira… E o que sobra?

Sobra você e o que importa: a ferramenta de orientação que funciona no seu peito. Não temos nada, exceto o que nos faz sentido. Não importa o quanto você ganha de dinheiro, quantos seguidores você soma nas redes sociais, o tamanho da sua casa. Troque isso pelos poucos amigos de carne, osso e presença; pelo endereço que te traga paz e pelo amor que sossegue sua alma e que faz o inimaginável por você. O resto, dispense!

O que não nos acrescenta é só mais coleção acumulada pelo medo e pelo apego. Sem uma bela faxina de coragem, não sobra espaço para o novo, para a emoção, para o que importa.

Lugar ocupado não deixa vaga para o que deve realmente chegar.

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